Contrariando o presidente Donald Trump, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, disse nesta quarta-feira, 3, que se opõe à mobilização de militares para conter os protestos contra o racismo sistêmico e a violência policial nos EUA, que já ocorrem há nove dias.
Trump, por sua vez, negou que tenha ordenado que a polícia da capital americana dispersasse à força uma manifestação pacífica para que pudesse fazer sua visita encenada à Igreja de São João, nos arredores da Casa Branca.
“A opção por usar forças militares ativas para aplicar a lei deve ser usada apenas como uma última alternativa, e apenas nas piores e mais urgentes situações. Nós não estamos agora neste cenário. Eu não apoio o uso da Lei da Insurreição”, disse Esper, em uma coletiva no Pentágono. “Sempre acreditei e continuo acreditando que a Guarda Nacional é mais adequada para prestar apoio interno às autoridades civis nestas situações.”
O secretário de Defesa refere-se à Lei da Insurreição de 1807, que permite ao presidente usar forças militares no território nacional para fazer cumprir a lei, ante tumultos e rebeliões. A medida foi acionada pela última vez em 1992, durante os protestos que seguiram a absolvição dos quatro policiais que espancaram Rodney King, um homem negro.
Desta vez, as manifestações foram motivadas por outro ato de violência policial que expõe o racismo nos EUA: o assassinato de George Floyd, asfixiado até a morte por um policial branco em Minneapolis, no estado do Minnesota, no dia 25 de maio.
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, também se mostrou contrário à mobilização do Exército, afirmando que os militares não podem ser usados como “arma política”.
Ameaça de Trump
A possibilidade do uso da legislação veio à tona na segunda-feira, quando Trump anunciou que usaria as Forças Armadas para conter as manifestações na capital e ameaçou enviar militares aos estados caso os governadores não consigam controlar o que chamou de “criminosos”, “anarquistas” e “terroristas internos”.
Especialistas, no entanto, questionam a viabilidade da promessa do presidente, que nesta quarta voltou a se autointitular como o presidente da “lei e da ordem”.
A medida foi criada com o objetivo de ser usada em circunstâncias como desastres naturais, mas que, mesmo com o contexto atual sendo diferente, os presidentes podem enviar tropas unilateralmente aos estados para impor a ordem.
Washington, no entanto, é uma exceção, já que o distrito federal não é legalmente um estado. Nos arredores da capital, há 1,6 mil soldados a postos, caso seu reforço seja requisitado.
Esper, que afirmou estar arrependido de ter usado o termo “campo de batalha” para se referir aos protestos, vem sendo amplamente criticado desde segunda, quando acompanhou Trump em sua visita encenada à Igreja episcopal de São João – passeio repudiado por políticos democratas e republicanos e criticado por líderes religiosos, que o classificaram como oportunista.
Para a caminhada pudesse acontecer, a polícia de Washington usou gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar manifestantes que protestavam pacificamente na Praça Lafayette, em frente à Casa Branca, antes mesmo do toque de recolher entrar em vigor, às 19h.
Minutos depois, o presidente e sua equipe atravessaram a região à pé em direção ao templo, cujo subsolo foi incendiado nas manifestações de domingo. Segundo a arquidiocese, no entanto, não houve destruição significativa.
Trump nega que tenha ordenado repressão
Na quarta-feira passada, 29, o secretário de Defesa havia dito que não sabia qual seria o destino da caminhada, algo que desmentiu nesta quarta, 3. De acordo com Esper, ele tinha conhecimento de que iriam à igreja, mas não sabia o que fariam lá.
Segundo relatos da mídia americana, a expulsão dos manifestantes teria sido uma ordem direta do procurador-geral William Barr para que a visita pudesse acontecer. Trump, por sua vez, disse em uma entrevista à rádio Fox News nesta manhã que não pediu em nenhum momento para que o protesto fosse deslocado.
“Eles não usaram gás lacrimogêneo”, disse o presidente, contrariando relatos de um grande número de jornalistas e manifestantes presentes no local. “Agora, quando eu fui, eu não disse “movam eles”. Eu nem sabia que eles estavam lá.”
Popularmente conhecida como Igreja dos Presidentes, a Igreja de São João é frequentada por todos os líderes americanos desde James Madison (1809-1817). Desde que chegou ao poder em 2016, Trump tem sido um visitante pouco frequente.
Mantendo uma tradição em vigor desde a posse de Franklin Roosevelt, ele participou de um culto no local no dia de sua posse, em 20 de janeiro de 2017. Desde então, foi ao centro religioso em apenas outras duas ocasiões. Historicamente, os presidentes costumam optar a ir de carro até o templo. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)