Inteligência Artificial altera comportamento humano e a economia

Um adolescente solitário começa a se relacionar com uma máquina (chatbot na linguagem tecnológica). Aos poucos, ele vai desenvolvendo com a máquina um sentimento amoroso até chegar ao ponto de transformar esse contato em uma paixão avassaladora. Respondendo às mensagens do rapaz, a máquina também se diz apaixonada por ele e promete amor eterno. Em vida? Obviamente que não. Mas, o adolescente de 14 anos entende esse convite de maneira literal, pega o revólver do pai e dá um tiro na cabeça.

Esse caso aconteceu nos Estados Unidos, mas poderia ter ocorrido em qualquer parte do mundo. O avanço da Inteligência Artificial generativa é uma realidade que está mexendo com o comportamento humano e a economia. Tudo em nome da tecnologia e da produtividade.

A IA, como é conhecida na sigla em português, ou AI em inglês, pode ser usada em praticamente todas as atividades econômicas. Na área científica o potencial é enorme com a possibilidade de descoberta de novas drogas e vacinas. No setor energético existe um horizonte muito próximo de novas fontes mais baratas e sustentáveis. Portanto, a IA generativa, ou seja, geradora de conhecimento, não é apenas, como muitos acreditam, uma plataforma audiovisual que serve para a criação de memes, falsificações de personagens e fakenews.

As universidades têm um papel muito importante para o desenvolvimento do uso da Inteligência Artificial. O mesmo vale para as empresas que não quiserem ficar para trás. E entre os países, então, nem é preciso falar da competição que já é acirrada entre as duas atuais superpotências: Estados Unidos e China.

No pelotão imediatamente posterior estão países com forte vocação tecnológica como França, Reino Unido, Alemanha, Japão e Canadá. Um pouco mais atrás ficam Itália, Finlândia, Dinamarca e, sim, o Brasil, reconhecido como o 12º país com mais artigos científicos publicados sobre IA.

O desafio será o que fazer com várias nações que estão fora desse jogo e nem de longe poderão sonhar em avançar uma casa decimal na disputa de “gente grande”. A tendência é que esses países, especialmente no Sul Global, se tornem meros compradores de tecnologia e mantenham o perfil de subalternidade na competição internacional.

No entanto, desafio maior mesmo será o que fazer com bilhões de pessoas que sem capacitação técnica não terão qualquer chance nesse mercado altamente tecnológico. Cada vez que uma máquina entra no processo produtivo, um ser humano deixa de ter função, o salário cai e o desemprego aumenta. Com a IA existe o risco de aumentar de forma exponencial a legião de desempregados e subempregados precarizados. Então, quem pode ingressar nesse mercado de trabalho? Serão poucos empregos bem remunerados para poucas pessoas.

Um setor que corre por fora nessa corrida são as famosas Bigtechs que vêm assumindo um lugar de ponta no que diz respeito ao desenvolvimento de pesquisas. Muitas delas têm orçamentos maiores do que muitos países e administram a principal arma da atualidade: a base de dados. Gigantes como Nvidia, Google, Meta e Microsoft estão acima de estados e governos, podendo utilizar informações da forma que quiserem e ainda utilizando como defesa o direito à liberdade de expressão.

Alguns países europeus, que aliás formam o segundo pelotão da IA, se mobilizam para regulamentar a atuação das Bigtechs temendo que a desinformação seja naturalizada e, assim, expanda ainda mais a polarização política e a ascensão de políticos populistas. Nesse sentido, é essencial que existam acordos dos países que estão avançados no desenvolvimento do modelo generativo da IA com as grandes empresas de dados.

Por outro lado, é preciso tomar cuidado para que a imposição de muitas regras não impeça a entrada de novos investimentos no setor. No caso do Brasil, as possibilidades de investimento são grandes porque o nosso parque industrial, apesar da desaceleração das últimas décadas, apresenta um potencial de modernização rápida, sem deixar de mencionar os recursos naturais e a questão das energias limpas existentes em território nacional.

Na entrevista exclusiva ao canal O Planeta Azul, o professor Glauco Arbix, do departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, explica tudo sobre a Inteligência Artificial generativa e o que está acontecendo em nosso país e no mundo. Assista.

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