Com 3 h de atraso, Saúde registra quase uma morte nova por minuto

O Ministério da Saúde divulgou hoje, com mais de três horas de atraso, o boletim diário da pandemia do coronavírus no Brasil. Os dados mais recentes indicam 1.349 mortes confirmadas em 24 horas no Brasil, ou uma a cada 64 segundos, o maior número já contabilizado nesta pandemia. Com isso, o total de óbitos chega a 32.548. O índice supera a alta de ontem, quando foram registrados 1.262 óbitos. O número de pessoas recuperadas da doença também sobe a cada dia e já chega a 238.617, o equivalente a 40,9% dos pacientes. Ainda segundo a pasta, mais de 312 mil casos seguem em acompanhamento.

Com a inclusão de 28.633 novos diagnósticos, o país contabiliza 584.016 casos em todo o seu território. No final da tarde de hoje, às 17h56, a coletiva de imprensa com os técnicos da pasta, marcada para as 17h30, foi cancelada — o Ministério da Saúde remanejou a apresentação à imprensa para amanhã. Algumas horas depois, foi informado à imprensa que a atualização seria feita às 22 h devido a “problemas técnicos”. Oficialmente, os dados são divulgados às 19h, contudo, há ao menos dez dias eles têm sofrido atrasos.

A região Sudeste passou das 15 mil mortes oficiais por covid-19 (15.290, exatamente), das quais mais de 8 mil foram em São Paulo. Para efeito de comparação, se os quatro estados da região formassem um país, este país seria o sétimo do mundo com mais óbitos registrados da doença — à frente de México, Bélgica e Alemanha, por exemplo. Já o Nordeste chegou a 10.066 mortes por covid-19 registradas. Um dos estados nordestinos, o Maranhão, agora contabiliza 1.028 óbitos e desta forma se torna o sétimo estado brasileiro a passar das 1 mil mortes causadas pela doença. São Paulo foi o estado brasileiro que mais registrou casos de ontem para hoje: 5.188. O segundo foi o Pará (3.567), que registrou sua maior alta nesta pandemia. Também registraram recordes Minas Gerais (1.071 novos casos), Distrito Federal (764), Paraná (331), Roraima (293) e Mato Grosso do Sul (156). Hoje a região Nordeste ultrapassou os 200 mil casos oficiais de covid-19 (são 204.535, precisamente), cerca de 6,3 mil menos do que o Sudeste (210.854), a região brasileira com mais diagnósticos da doença. Em seguida estão o Norte (121.461), o Sul (25.926) e o Centro-Oeste (21.240).

Médicos e pesquisadores têm criticado os recorrentes atrasos na divulgação dos números, que dificulta o entendimento de como a pandemia tem se comportado no país e a avaliação dos esforços do governo federal para contê-la. A situação de hoje foi vista com alerta. Para o neurocientista e coordenador do comitê cientifico para covid-19 do Consórcio Nordeste, Miguel Nicolelis, é “simplesmente estarrecedor” o atraso na divulgação dos dados. Já Evaldo Stanislau, médico infectologista do Hospital das Clínicas, afirma que é um “mau indício”. “O primeiro problema é ficar sem dado oficial. Isso tem um impacto na assistência, porque muda o planejamento e a tomada de decisão de gestores que estão monitorando estes dados. Então também causa um efeito cascata”. “Eu estranho muito um Ministério da Saúde que não tenha um interlocutor médico, isso por si só já é uma sinalização grave em um momento tão importante”, pondera Helio Bacha, infectologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. “O Ministério da Saúde está sem ministro, com dois ministros que saíram em menos de um mês. Esse é essa situação complicada. O nosso risco agora é o de um apagão técnico. E acho que é isso que está acontecendo”, afirma Bernadete Perez, vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

A confirmação de óbitos e diagnósticos apresentada pelo governo entre um dia e outro não necessariamente ocorreu nas últimas 24 horas. O Ministério da Saúde explica que a fila de testes provoca atrasos nos registros feitos pelas secretarias. Com isso, muitas das ocorrências podem ser de outras datas.

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