Guerra de preços de petróleo derruba mercados em todo o mundo e IBovespa aciona ‘circuit breaker’. Dólar começa semana em disparada superando 4,79 reais. Wall Street abre em queda e também para operações
A guerra de preços do petróleo derreteu as bolsas em todo o mundo, em uma reação a crise mundial do coronavírus (Covid-19). Às 10h31, o índice Ibovespa chegou a uma queda de 10% e a Bolsa acionou o circuit breaker, um mecanismo de segurança utilizado para interromper todas as operações da Bolsa de Valores do Brasil (B3), que foram suspensas a 88.178 pontos. A Bolsa ficou interrompida por 30 minutos e reabriu ainda em queda. Às 11h31, o índice despencava 8,9%, a 89.278 pontos. O Ibovespa fechou na sexta-feira em queda de 4,14%, a 97.996 pontos. O dólar começou a semana em disparada acentuada contra o real, chegando a superar 4,79 reais. Wall Street abre em queda e também interrompe negociações para frear pânico.
A última vez que a Bolsa acionou o circuit breaker foi em 18 de maio de 2017, em meio a da delação de Joesley Batista, dono da JBS, que revelou detalhes de corrupção envolvendo o então presidente Michel Temer. Havia quase 10 anos que não acontecia este tipo de evento na Bolsa. Anteriormente, o mecanismo foi acionado apenas quatro vezes: na crise do subprime dos EUA, em 2008; na grande desvalorização do real de 1999; na ameaça de moratória russa, em 1998; e na crise dos tigres asiáticos, em 1997.
Os preços do petróleo chegaram a cair mais de 30% nesta segunda-feira, o maior recuo diário desde a Guerra do Golfo, em 1991, após a Arábia Saudita ter sinalizado que elevará a produção para ganhar participação no mercado, que já está com sobreoferta devido aos efeitos do coronavírus sobre a demanda. Os sauditas cortaram seus preços oficiais de venda.
As atenções no pregão brasileiro estão voltadas principalmente para as ações da Petrobras, que já recuaram fortemente na sexta-feira, após a Rússia recusar aderir a cortes adicionais de oferta propostos pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para estabilizar os mercados da commodity.
Analistas do Bradesco BBI já cortaram a recomendação para os papéis da Petrobras para ‘neutra’, reduzindo o preço-alvo das preferenciais para 23,50 reais ante 38 reais, para incorporar “um cenário de preço do petróleo mais pessimista em nosso modelo após a enorme decepção com a última reunião da Opep e as repercussões anunciadas pela Arábia Saudita”.
O Goldman Sachs cortou sua previsão para os preços do petróleo Brent para o segundo e terceiro trimestres de 2020 para 30 dólares o barril, “com possíveis quedas de preços para níveis de estresse operacional e custos de caixa bem próximos de 20 dólares o barril”, conforme relatório a clientes ainda no domingo.
O mecanismo de circuit break é realizado em três fases, conforme os percentuais de desvalorização do Ibovespa. Na primeira fase, quando o Ibovespa desvaloriza 10% em relação ao valor de fechamento do dia anterior ―no caso, o fechamento de sexta-feira, 6―, a negociação é interrompida por 30 minutos. Numa segunda fase, após reabertas as negociações, caso a variação do índice atinja queda de 15% (também em relação ao valor de sexta-feira), a negociação é novamente interrompida por uma hora. Num terceiro momento, após reabertas as negociações, caso a variação do Ibovespa atinja queda de 20% , a B3 pode determinar a suspensão da negociação por um período indeterminado.
Bolsas no mundo
A Bolsa de Nova York abriu a sessão em queda de 7% e também interrompeu as operações por 15 minutos para frear o pânico dos mercados. A interrupção temporária foi desencadeada por quedas nos índices Dow Jones e S&P 500, arrastadas pela queda nos preços do petróleo e pelo medo dos investidores com a expansão do coronavírus. Ao reabrir as negociações, os índices perderam ainda mais, ultrapassando a marca de 7%, e depois se recuperaram levemente, com o S&P 500 caindo para 5,9%. A operação pode parar novamente se a queda do índice, com base na capitalização de mercado de 500 grandes empresas listadas, atingir 13%.
As grandes bolsas europeias perdem até cerca de 9% pouco depois da abertura como consequência das medidas adotadas para conter a epidemia de coronavírus e o seu impacto na economia, que poderá provocar uma recessão econômica em alguns países, segundo especialistas consultados. Nesta manhã, a bolsa de Londres perdia 8,65%, enquanto Frankfurt baixava 7,39%; Madri 6,15%; o índice Stoxx 600 caía 6,09%; Paris 5,95%; o índice Euro Stoxx 50 descia 5,55% e Milão 2,01%.
A queda superior a 5% de Tóquio desta madrugada, o retrocesso de 4,2% de Hong Kong, a queda de 5% dos futuros norte-americanos e a suspensão da negociação neste mercado pelas medidas de confinamento adotadas em Itália e o medo de uma recessão influenciavam as quedas, que poderão ser as maiores num só dia desde o referendo do Brexit em 2016.
A queda da cotação do barril de petróleo Brent em cerca de 21%, até 35,95 dólares na manhã desta segunda, era um reflexo desta situação, no qual a dívida soberana com maior qualidade de crédito, como a alemã, registava um rendimento mínimo histórico em -0,83%, o mesmo que acontecia com a dívida americana, cuja rentabilidade descia 29 centavos, ficando no mínimo histórico de 0,47%. O preço da onça de ouro mantinha-se em níveis do encerramento de sexta-feira, em 1.676 dólares.
Dólar começa em alta
No Brasil, o dólar começou a semana em disparada acentuada contra o real, chegando a superar 4,79 reais na máxima em meio à onda de aversão a risco global, apesar das tentativas do Banco Central de frear a disparada recente da moeda norte-americana.
Às 9:13, o dólar avançava 3,33%, a 4,78 reais na venda, e chegou a tocar a máxima recorde de 4,79 logo após a abertura. Enquanto isso, o dólar futuro saltava 3,5%, a 4,79 reais.
O BC anunciou nesta segunda-feira leilão de venda de dólar à vista de até 3 bilhões de dólares, cancelando o anúncio de venda de até 1 bilhão feito na sexta-feira. Além disso, nesta segunda-feira, o diretor de política monetária da autarquia, Bruno Serra, indicou que as intervenções cambiais do Banco Central podem durar o tempo que for necessário e que não tem preconceito ou preferência por uso de nenhum dos instrumentos à sua disposição.
Informações de: Reuters e Efe