EUA e China assinam acordo após 2 anos de guerra comercial: o que mudou ao longo da disputa?

Houve fortes brigas, impasses tensos e promessas de “cessar-fogo”, mas agora os Estados Unidos e a China estão finalmente assinando um acordo comercial.

Independentemente do resultado, a guerra comercial teve importante papel na reconfiguração do relacionamento entre a China e os EUA, além dos impactos na economia global.

Afinal, o que mudou durante quase dois anos de negociações comerciais, que foram uma montanha-russa para os dois países?

Déficit comercial diminui

O presidente dos EUA, Donald Trump, acreditava que travar uma guerra tarifária poderia diminuir o déficit comercial do país com a China.

E sim, o déficit comercial dos EUA em bens caiu desde o início da guerra comercial, mas permanece alto.

Nos 12 meses até novembro de 2019, o déficit diminuiu em US$ 60 bilhões em relação ao ano anterior e ficou em cerca de US$ 360 bilhões.

Mas reduzir esse déficit teve um custo: o comércio bilateral deu um grande passo atrás, encolhendo mais de US$ 100 bilhões.

Exportações agrícolas dos EUA para a China caem

A China retaliou as tarifas impostas por Trump e os agricultores americanos foram os que mais sofreram.

As exportações agrícolas anuais dos EUA para a China caíram de quase US$ 25 bilhões para menos de US$ 7 bilhões, o valor mais baixo em muito tempo.

Mas é improvável que as tarifas agrícolas da China tenham um impacto muito grande para a economia americana em geral, já que os agricultores representam apenas cerca de 1% da população do país e o governo concedeu subsídios agrícolas para compensar os danos da guerra comercial.

Investimentos chineses despencam

Embora o investimento dos EUA na China tenha permanecido relativamente estável durante a guerra comercial, o investimento chinês nos EUA caiu significativamente.

De acordo com o think tank Enterprise Institute, de Washington, o investimento chinês caiu de um recorde de US$ 54 bilhões em 2016 para apenas US$ 9,7 bilhões em 2018. No primeiro semestre de 2019, apenas US$ 2,5 bilhões foram investidos nos EUA por empresas chinesas.

As empresas chinesas evitaram investir nos EUA, citando preocupações com a tensão comercial, bem como uma triagem mais rigorosa do investimento nos EUA e um controle de capital mais rígido na China.

Preocupação com o clima de negócios

Embora o investimento ainda exista, as empresas americanas que operam na China dizem que a tensão comercial entre os dois países é uma das principais preocupações.

De acordo com o Conselho Empresarial EUA-China, em 2019, 81% das empresas americanas com operações na China disseram que a guerra comercial teve impactos negativos em seus negócios, o que representa um aumento de 8% em relação a 2018.

Já em 2017, apenas 45% das empresas americanas manifestavam preocupação com esses riscos.

Duro golpe na economia da China, dos EUA e do mundo

Projeções apontam que os EUA não devem atingir sua meta de crescimento econômico de 3%, em parte devido à guerra comercial com a China. Analistas dizem que pode levar anos para que o impacto da imposição de tarifas se mostre totalmente.

O crescimento da China também está desacelerando. O Banco Mundial prevê que a economia chinesa cresça menos de 6% em 2020, o que seria o ritmo mais lento em quase três décadas.

A guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo inevitavelmente prejudica toda a economia global. “Todo mundo perde em uma guerra comercial”, comentou a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva.

Além da China, os EUA estão atualmente negociando com outros parceiros comerciais para reformular seus acordos comerciais. Dadas as consequências desses conflitos, o FMI rebaixou recentemente suas expectativas de crescimento global em 2019 para 3%, menor índice desde a crise financeira de 2008.

Rivalidade tecnológica

Apesar de um acordo comercial, os riscos de “dissociação” tecnológica entre Pequim e Washington são altos.

Washington colocou a empresa chinesa de telecomunicações Huawei e dezenas de outras empresas chinesas em uma “lista de restrições”, impedindo as empresas americanas de fazer negócios com elas.

Pequim criou uma lista semelhante em retaliação. Há indicativos de que os EUA continuarão investigando as empresas chinesas com presença nos Estados Unidos.

O especialista em geotecnologia Paul Triolo disse à BBC que a primeira fase do acordo comercial pode parar temporariamente a piora da tensão bilateral, mas é improvável que acabe com a rivalidade e desconfiança tecnológica dos dois gigantes.

Fonte: BBC Brasil

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