Ida de Braga Netto, que foi interventor federal no RJ, deve consolidar volta por cima de ala militar no governo.
O presidente Jair Bolsonaro convidou o general Walter Souza Braga Netto para o comando da Casa Civil da Presidência, no lugar de Onyx Lorenzoni. O militar é o segundo na hierarquia do Exército e sinalizou que aceita o cargo.
Braga Netto, 62, é o atual chefe do Estado-Maior do Exército, liderou o Comando Militar do Leste e, durante dez meses em 2018, foi o interventor militar na área de segurança pública do Rio de Janeiro.
Como Braga Netto não aceitou imediatamente o convite, auxiliares de Bolsonaro cogitaram o nome de dois outros militares, o chefe do Comando Militar do Sul, general Antônio Miotto, ou o do comandante do 1º Distrito Naval, almirante Flávio Rocha.
O general indicou que aceita a missão após reunião com o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol. Como não houve um anúncio formal por parte do Palácio do Planalto, contudo, fica em aberto a possibilidade de alguma mudança de planos.
A nomeação marcará a volta por cima da ala militar do governo —naturalmente próxima da ativa das Forças Armadas, mas que não deve ser confundida com ela.
Um dos grupos mais poderosos no começo do mandato de Bolsonaro, com quem sofrem identificação imediata pelo fato de o presidente ser um capitão do Exército reformado, os militares foram perdendo poder ao longo de 2019.
Em seu lugar, ascendeu a influência da dita ala ideológica do bolsonarismo no governo. Ela é comandada informalmente pelos filhos de Bolsonaro e composta por discípulos do escritor Olavo de Carvalho, que destratou inúmeras vezes generais.
Isso começou a mudar com a ida ao Planalto do general Luiz Eduardo Ramos, amigo de Bolsonaro desde os tempos de cadete. Apesar de sofrer críticas do que classifica de “serpentário” palaciano, o militar afirmou-se como um dos mais influentes assessores do presidente.
Ele aparou algumas arestas em crises com o Congresso e ajudou a moderar a virulência com que os filhos do presidente, em especial o vereador Carlos, atacavam desafetos no governo.
A outra ponta do eixo renovado de poder militar no governo é o ministro da Defesa, o também general do Exército Fernando Azevedo. Articulador hábil, ele manteve pontes ativas durante 2019 com o Judiciário —foi assessor especial do presidente do Supremo, Dias Toffoli.
Internamente, ele conseguiu ver aprovada a reforma previdenciária e a reestruturação da carreira dos militares, demandas de duas décadas da corporação, sob intensa crítica na opinião pública. Azevedo foi chefe de Ramos durante toda a carreira militar, e o trata como “meu pit bull”.
A condução da questão das queimadas na Amazônia, que geraram fortes críticas internacionais ao governo no segundo semestre, foi vista como decisiva para a melhoria da relação de Bolsonaro com seus generais.
Também está fortalecido o vice-presidente, Hamilton Mourão, que também é general da reserva. Ele moderou suas posições em debates internos e passou a ser visto com menos desconfiança pelo Alto-Comando do Exército, que reúne a elite da ativa, e pelos ministros de origem militar. Antes, seu comportamento intempestivo era visto como prejudicial a Bolsonaro.
A indicação de um nome do Exército para a Casa Civil gerou irritação nas outras Forças, particularmente em alguns setores da Marinha.
Há uma preponderância de oficiais do Exército, da reserva e da ativa, em cargos importantes do governo, a começar por Bolsonaro —um capitão reformado. Entre os 22 ministros, 5 têm origem na Força terrestre, 1 na Marinha e outro na Força Aérea.
Com a chegada de Braga Netto, salvo alterações no planejado, serão seis oriundos do Exército, três ocupando postos no Planalto, onde a quarta vaga de ministro palaciano é de um policial militar, Jorge Oliveira (Secretaria-Geral).
Seja como for, a Marinha estará representada no Planalto. O almirante Rocha, se não acabar como ministro, será ou uma espécie de “superassessor” da Casa Civil ou titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Sua missão será ajudar a organizar o fluxo de demandas internas do governo.
Ele recebeu sua quarta estrela, topo da carreira naval, na segunda (11). A exemplo de Ramos, permanecerá na ativa, sendo emprestado (agregado, no jargão) ao Planalto.
No balanço de poder da ala militar, perdeu espaço o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional). Antes o mais influente conselheiro de Bolsonaro, em especial durante a campanha eleitoral, o militar da reserva tem sofrido críticas internas e resistência a algumas de suas colocações.
Já Onyx estava com os dias contados desde o episódio em que seu número 2 perdeu o cargo por fazer uso indevido de um avião da Força Aérea Brasileira, e vinha perdendo poder paulatinamente no governo.
Seu destino deve ser o Ministério da Cidadania, ocupado por Osmar Terra. Na avaliação do entorno palaciano de Bolsonaro, a pasta social não entregou nenhuma marca de relevo neste primeiro ano.
Na meritocracia particular do governo, Onyx também passou em branco, mas, como é um apoiador de Bolsonaro desde os tempos em que raros políticos tinham coragem de fazer isso abertamente, o presidente crê que é merecedor de mais uma chance.
Também haverá também uma contradição em termos. A Casa Civil, órgão criado em 1938, tradicionalmente era ocupada por um civil, paralelamente à antiga Casa Militar, hoje o GSI.
MILITARES NO 1º ESCALÃO DO GOVERNO
- Hamilton Mourão
Vice-presidente, é general da reserva do Exército - Augusto Heleno
Chefe do GSI, é general da reserva do Exército - Luiz Eduardo Ramos
Chefe da Secretaria de Governo, é general da ativa do Exército - Marcos Pontes
Ministro da Ciência e Tecnologia, é tenente-coronel da reserva da Força Aérea - Bento Albuquerque
Ministro de Minas e Energia, é almirante da reserva da Marinha - Fernando Azevedo
Ministro da Defesa, é general da reserva do Exército - Wagner Rosário
Ministro-chefe da CGU, é capitão da reserva do Exército - Tarcísio Freitas
Ministro da Infraestrutura, é capitão da reserva do Exército
Fonte: Folha de SP