Em uma edição marcada pela ascensão da China, o Pisa, principal avaliação de qualidade da educação básica do mundo, mostrou uma estagnação no desempenho do Brasil por quase uma década.Apesar do resultado ruim, a previsão do ministro Abraham Weintraub (Educação), de que o país ficaria em último lugar entre os da América do Sul acabou por não se concretizar. Ao fazer a afirmação há duas semanas, ele não deixou claro se estava adiantando os resultados. “Estou supondo com base em números robustos”, disse. Com exceção do ranking de ciências, em que aparece empatado com Argentina e Peru, o Brasil está ligeiramente à frente da Argentina em matemática e de Argentina, Colômbia e Peru em leitura. Aplicado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) a cada três anos, o Pisa avaliou em 2018 alunos de 15 anos de 79 países ou regiões. A prova considera Macau e Hong Kong, territórios da China com administração própria e certo grau de autonomia, como entidades independentes.
A organização pontua no relatório de resultados da avaliação que o Brasil avançou em matemática entre 2003 e 2018, mas a melhora ficou concentrada nos primeiros anos desse período. Na fase seguinte, a tendência é de estagnação. “Após 2009, em matemática, leitura e ciências, a performance parece variar em tendência estável”, diz o texto. O Brasil ocupa no ranking da avaliação a 42ª posição em leitura, destaque do relatório deste ano, a 58ª em matemática e 53ª em ciências. Além da média baixa e estagnada, chama a atenção a quantidade de alunos brasileiros abaixo do desempenho considerado mínimo. Do total de estudantes, 43% não alcançaram o nível considerado mínimo em nenhuma das áreas do conhecimento.
A situação mais grave é a de matemática. Apenas 32% dos brasileiros atingiram o mínimo na disciplina no país, enquanto a média dos integrantes da OCDE é de 76%.Atingir esse patamar significa que esses estudantes conseguem, por exemplo, converter preços em diferentes moedas —algo que sabem fazer 98% dos alunos das províncias chinesas de Beijing, Xangai, Jiangsu e Zhejiang. Em ciências, 45% dos brasileiros chegam ao mínimo, ante média da OCDE de 78%. Eles conseguem identificar, em casos simples, quando uma conclusão é válida com base nos dados disponíveis. Em leitura, 50% no país chegam ao mínimo, ou seja, conseguem identificar a informação principal de um texto de tamanho médio. A média da organização é de 77%.
O nível máximo é atingido por apenas 2% dos brasileiros em leitura e 1% em matemática e ciências. A média da OCDE é de 9%, 11% e 7%, respectivamente. O relatório mostra ainda que o Brasil tem um desempenho pior no exame do que países com o mesmo patamar de gastos em educação, a exemplo da Turquia, da Ucrânia e da Sérvia. O país, porém, despende menos de US$ 20 mil por estudante ao ano (cerca de R$ 84 mil), em valores convertidos para tornar possível comparar o poder de compra. O relatório registra que, em nações que gastam até US$ 50 mil por aluno, a nota está mais relacionada ao gasto do que para as demais.
Como ponto positivo para o Brasil, o relatório destaca a inclusão de alunos na escola no período entre 2000 e 2012. O texto conclui que ela pode mascarar uma tendência mais positiva de melhora do desempenho —sabe-se que os estudantes incluídos mais tardiamente no sistema escolar tendem a ter mais dificuldade de aprendizagem no início. O topo do ranking do Pisa é dominado por países asiáticos. A nação europeia que está mais bem colocada é a Estônia, em 5º lugar em leitura, 8º em matemática e 4º em ciência.
Quatro províncias e municipalidades da China lideram as três áreas do conhecimento, superando Cingapura no ranking anterior. São elas Beijing, Xangai, Jiangsu e Zhejiang. Embora longe de representar toda a China, onde vive 1,3 bilhão de pessoas, elas têm uma população nada desprezível: 180 milhões de habitantes. Especialmente em matemática e ciência, o desempenho delas é melhor do que os dos demais países por larga margem. Em leitura, é similar ao de Cingapura. O bom desempenho vai do topo à base da pirâmide social. Os estudantes dessas regiões chinesas entre os 10% com pior nível socioeconômico vão melhor em leitura do que a média de todos os alunos da OCDE, e tão bem quanto os de melhor nível socioeconômico dos países pertencentes à organização.
“O que torna sua conquista ainda mais notável é que o nível de renda dessas quatro regiões chinesas está consideravelmente abaixo da média da OCDE. A qualidade das suas escolas hoje alimentará a força de suas economias amanhã”, afirma no prefácio da publicação o secretário-geral da organização, Angel Gurría.
Ele classifica ainda como decepcionante o fato de a maioria dos países da OCDE não ter registrado melhora no desempenho desde a primeira aplicação do Pisa, em 2000, mesmo com aumento de 15% no investimento por estudante. Gurría registra ainda que apenas 7 dos 79 sistemas educacionais analisados tiveram desde então melhora significativa nas três áreas avaliadas, sendo Portugal o único deles que é integrante da organização. Nos Estados Unidos, que disputam com a China a liderança global, o desempenho dos estudantes coloca o país em 11º lugar em leitura, 30º em matemática e 16º em ciências. As notas dos alunos americanos seguem um padrão de estabilidade desde as primeiras edições do exame, com uma melhora mais significativa entre os de mais baixa performance em ciências.