Diretor do presídio de Pedro Juan Caballero e 28 guardas foram detidos sob suspeita de ter colaborado com o plano dos 75 fugitivos
Foi a maior fuga de uma prisão na história do Paraguai, segundo o Governo. Na madrugada de domingo, 75 presos ligados à organização criminosa mais poderosa do Brasil escaparam de uma prisão perto da fronteira entre os dois países. Embora as autoridades tenham encontrado um túnel aparentemente cavado durante semanas, não descartam a possibilidade de que os presos tenham escapado pelo portão principal do presídio, com a cumplicidade dos guardas. A espetacular fuga evidencia o poder que o Primeiro Comando da Capital (PCC) adquiriu no Paraguai, onde obtém armas e maconha, e por onde transita a cocaína que compra na Bolívia e envia para a Europa por portos do Brasil.
Cerca de 40 dos que escaparam têm nacionalidade brasileira. O Governo de Jair Bolsonaro anunciou imediatamente o envio de 200 policiais para reforçar a fronteira e tentar impedir a entrada em seu território dos fugitivos da prisão de Pedro Juan Caballero, cidade onde o PCC deu há quatro anos o golpe com o qual deixou claro que pretendia ser o cartel hegemônico da região. Lá, matou em uma emboscada espetacular o chamado rei da fronteira, Jorge Rafaat Toumani, chefe local do contrabando e tráfico de armas e drogas que abastecia o PCC, mas também outros grupos. A organização criminosa tem um forte domínio territorial nos Estados fronteiriços brasileiros.
Seis caminhonetes usadas na fuga foram encontradas queimadas em Ponta Porã, cidade brasileira que fica no limite da fronteira, segundo uma porta-voz da polícia citada pela France Presse. Uma avenida liga as duas localidades. Entre os fugitivos, alguns envolvidos em uma batalha carcerária no Paraguai no ano passado que resultou em vários presos decapitados. Esse tipo de punição para aqueles considerados inimigos ou traidores é frequente nos motins nas prisões do Brasil.
O Brasil ofereceu ajuda ao Paraguai, que demitiu de modo fulminante o diretor da prisão e 28 guardas. Os prisioneiros cavaram o túnel durante semanas e, apesar de acumularem centenas de sacos de areia e entulho, ninguém deu o alarme.
As autoridades paraguaias não puderam impedir a fuga, embora, como admitiram, já tivessem informações em dezembro de que o PCC estava oferecendo uma recompensa de 80.000 dólares (335.000 reais) a quem o ajudasse na fuga de seus afiliados.
O PCC, criado em um presídio de São Paulo no início dos anos 90, tem cerca de 30.000 membros dentro e fora das prisões. Dada a fragilidade do Estado no sistema penitenciário, o grupo controla o funcionamento interno de dezenas de prisões.
“No Paraguai tudo é novidade. A presença do PCC é novidade, suas estratégias, os grandes subornos são novidade. E isso abre lacunas”, explicou ao jornal O Estado de S. Paulo o especialista na facção criminosa Bruno Paes Manso, da Universidade de São Paulo. “Embora [o Paraguai] seja um país importante para a maconha e como trânsito de cocaína da Bolívia, o PCC chega de modo muito truculento, com outra relação com o mercado das drogas e uma estratégia muito violenta de dominar as prisões para assustar o Paraguai”, segundo o especialista.
O cartel tem uma célula dedicada a organizar fugas. Por isso, o ministro da Justiça do Brasil, Sergio Moro, alertou na noite de domingo que “se voltarem para o Brasil, ganham passagem só de ida para presídio federal”. São muito poucas e as mais temidas pelos traficantes de drogas porque nelas não têm o espaço de manobra que exibem nas prisões estaduais. Logo após a posse de Moro, no início de 2019, a direção do PCC, com Marcos Camacho, conhecido como Marcola, à frente, foi transferida de prisões estaduais de São Paulo para outras administradas pelo Governo federal. O especialista Paes observa que “o PCC aprendeu a crescer e a ser forte com seus chefes presos. Mas a fuga é muito valorizada. Quem escapa ganha respeito e uma aura de mito”. O sistema penitenciário foi o primeiro palco de sua rápida expansão no Brasil. Depois, alastrou-se para as favelas e, nos últimos cinco anos, para os países vizinhos.
Acre
Na madrugada de domingo para segunda-feira, também foi registrada uma fuga em massa do lado brasileiro da fronteira, mais ao Norte. Ao menos 26 presos fugiram da Penitenciária Francisco d´Oliveira Conde, em Rio Branco, no Acre ―um deles, Adalcimar Oliveira de Almeida, foi recapturado logo depois―. Os fugitivos seriam da facção criminosa Bonde dos 13, aliada do PCC, e usaram lençóis amarrados para escalar o muro do presídio. As autoridades locais tentam se certificar de que os fugitivos não deixem os limites do Estado e a Polícia Federal, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e o Ministério Público foram acionados para auxiliar no caso.