O colapso do sistema de saúde do Amazonas, onde faltam leitos e oxigênio para atender pacientes, em meio ao avanço de casos de coronavírus, começa a se replicar na região da fronteira com o Estado do Pará. No município de Faro, no oeste paraense, a alta de registros de covid-19 após as festas de fim de ano e a escassez de infraestrutura e equipamentos levaram ao limite o serviço de atendimento do local, que já precisa pedir ajuda às cidades vizinhas e recorrer a doações.
“Nossa reserva de oxigênio está zerada. Temos 37 pacientes internados dividindo 11 balas de oxigênio para que nenhuma vida seja perdida. Estamos pedindo remédios emprestados, oxigênio, não temos recursos. Hoje dependemos de doações, estamos entrando em desespero”, afirma Thiago Azevedo, secretário de Governo da Prefeitura de Faro. Atualmente, o município do Pará, de cerca de 8.000 habitantes, conta com 159 casos ativos da doença. O secretário explica ainda que a logística de chegada de oxigênio na cidade também é complexa e que o local acaba sendo mais dependente dos serviços de Manaus (a 380 km), epicentro da doença, onde uma nova cepa do coronavírus circula, do que da capital Belém (a mais de 900 km).
O distrito de Nova Maracanã, com cerca de 1.200 moradores, é o que atravessa a situação mais grave no município. “A comunidade é a que fica mais perto da divisa com o Amazonas, houve muita circulação de familiares, viagens a Manaus. Foi onde o surto começou e se concentra, 80% dos casos são do distrito”, diz Azevedo. Na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Nova Maracanã a situação é precária e de bastante improvisação. Colchões foram colocados em cima das cadeiras e bancos de espera do local e transformados em leitos. Outros foram colocados em mesas de madeira e até cadeiras de uso odontológico são utilizadas como macas para atender os pacientes.
O estudante de Serviço Social Yuri Ramos tem participado de um movimento para arrecadar recursos para comprar medicamentos e doações como colchões. “Atualmente estão dividindo para três uma ampola que era para apenas um paciente. A situação é crítica. De quinta sábado morreram duas pessoas, a gente vai se ajudando como pode”, diz o estudante, que explica que alimentos também estão sendo doados para as famílias de pacientes que aguardam na frente do centro médico.
Para tentar conter o agravamento da crise sanitária, a prefeitura publicou um decreto emergencial com medidas para conter a disseminação da doença, que passou a vigorar no último dia 11. Entre elas, está um “toque de recolher” das 21h às 5h em toda a cidade, durante 30 dias. Ainda segundo o documento, a população está proibida de frequentar igarapés, praias, quadras poliesportivas, igrejas, academias e bares. Quem descumprir às recomendações deve ser conduzido à delegacia de Polícia Civil, podendo ser preso e processado pelos crimes de desobediência e infração de medidas sanitárias.
O Governo do Pará também intensificou a fiscalização nas divisas dos municípios de Santarém, Juruti, Terra Alta, Faro, Óbidos e Oriximiná, na região Oeste, para que seja cumprido o decreto Estadual, que proíbe a circulação de embarcações de passageiros entre os estados do Pará e do Amazonas. A medida visa impedir a entrada de pessoas do Estado vizinho como medida preventiva à proliferação da covid-19. “Somos solidários com o povo do Amazonas, mas neste momento precisamos resguardar a vida da nossa população”, afirmou Henderson Pinto, secretário regional de Governo da região Oeste, em visita à região no último domingo, segundo o site O Liberal. Atualmente, o Pará acumula 7.412 mortes e mais 309.000 casos da doença.
De acordo com o presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) do Pará, Charles Tocantins, várias cidades na divisa com o Amazonas estão com os leitos próximos da lotação. Estamos monitorando a necessidade de oxigênio e o Ministério da Saúde solicitou também o monitoramento”, diz. O Estado instalou no último sábado 16 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no município de Juriti, na região do Baixo Amazonas. “A preocupação hoje é de médicos para a rede básica para atendimento dos pacientes e oxigênio. Manaus foi uma tragédia”, afirma.
Atualmente, um dos maiores desafios do Estado vizinho, o Amazonas, é conseguir maior quantidade de cilindros de oxigênio, já que hoje só consegue produzir um terço da demanda do insumo e enfrenta dificuldades logísticas para fazê-lo chegar rapidamente de outros Estados. O abastecimento do O2 no interior também é um tema complexo. Uma das soluções propostas pela Secretaria de Estado de Saúde, neste domingo, é a instalação de usinas de oxigênio em unidades estratégicas fora de Manaus.