A pandemia do novo coronavírus derrubou a produção industrial em todo o Brasil no mês de março. Foi a primeira vez em oito anos que todos os 15 locais pesquisados apresentaram queda, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado é reflexo direto das medidas de isolamento social que afetou o processo de produção no Brasil desde meados de março, quando a OMS (Organização Mundial de Saúde) decretou pandemia do novo coronavírus. Nas semanas seguintes, estados e municípios impuseram restrições à circulação de pessoas. Até esta quarta-feira (13), o país tinha 13.149 mortes confirmadas pela doença.
No formato antigo da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), com 14 locais pesquisados –Mato Grosso entrou na lista apenas em 2012–, a única queda generalizada havia ocorrido em novembro de 2008, por consequência da crise financeira global.
A indústria brasileira apresentou em setembro queda de 1,4% no acumulado do ano, na comparação com o mesmo período de 2018, segundo dados do IBGE.
Segundo o IBGE, o mais próximo do resultado divulgado nesta quinta (14) aconteceu em maio de 2018, com a greve dos caminhoneiros, que derrubou a produção industrial em 14 dos 15 locais.
Epicentro da Covid-19 no país, com 51.097 casos, e local onde se concentra mais de um terço da indústria nacional, São Paulo foi a região que mais influenciou o resultado nacional (-9,1%), com queda de 5,4%. Em fevereiro e março, o estado acumulou perda de 6,6%. motivado principalmente pela queda nos setores de veículos e bebidas.
O Ceará, que nesta quarta (13) ultrapassou o Rio de Janeiro em número de casos confirmados do novo coronavírus, com 19.156 infectados, e agora ocupa o segundo lugar da lista no Brasil, teve o maior recuo industrial em termos absolutos, com queda de 21,8%.
O Estado foi pressionado principalmente pelas quedas no setor de couros e calçados, além de vestuário. A indústria cearense vinha com dois meses de resultados positivos e alcançando um acumulado de 2,4% em janeiro e fevereiro.
Terceiro local em número de casos de Covid-19, o Rio de Janeiro apresentou recuo de 1,3% no setor industrial, também influenciado pela queda no setor de veículos e bebidas. O Estado já vinha de retração no mês anterior, acumulando perda de 2,1%. Rio Grande do Sul (-20,1%) e Santa Catarina (-17,9%) foram outros estados que contribuíram para o recuo na média nacional.
Ainda apresentaram recuos mais intensos do que a média nacional o Pará (-12,8%), o Amazonas (-11%) e toda a Região Nordeste (-9,3%). Também caÍram os estados de Pernambuco (-7,2%), Espírito Santo (-6,2%), Bahia (-5,0%), Paraná (-4,9%), Mato Grosso (-4,1%), Goiás (-2,8%) e Minas Gerais (-1,2%).
Nas últimas 24 horas antes da última divulgação, na noite desta quarta-feira, foram 749 novas mortes e 11.385 novos casos confirmados da doença. No total, o país tinha 13.149 óbitos confirmados pelo novo coronavírus, 188.974 casos.
De acordo com o instituto, o desempenho de março de 2020 coloca a produção industrial brasileira no mesmo nível de agosto de 2003. A queda afetou todas as categorias econômicas e 23 dos 26 ramos pesquisados.
Em relação a março de 2019, que teve três dias úteis a menos que o mesmo mês de 2020, a indústria teve queda de 3,8%, com 11 dos 15 locais pesquisados mostrando resultados negativos. As consequências da pandemia ficam ainda mais claras nessa comparação.
“O chamado ‘efeito-calendário’ foi positivo em março de 2020, que teve 22 dias úteis, três a mais que 2019”, disse o analista da pesquisa, Bernardo Almeida. “O isolamento social teve efeito direto na cadeia produtiva. Os dados de março mostram esses efeitos diretos que afetaram o processo de produção no Brasil”, acrescentou o analista.
Ainda na comparação com março de 2019, São Paulo também teve influência direta no resultado negativo, com queda de 4,2% e recuo em 14 das 18 atividades pesquisadas. Produção de automóveis e outros equipamentos de transporte, como produção de aviões, foram os ramos que puxaram a taxa para baixo.
A queda na indústria foi um dos indicadores que mostram os efeitos do isolamento social sobre a economia brasileira. acompanhada pelo recuo recorde de 6,9% no setor de serviços e de 2,5% nas vendas do comércio, o pior desempenho desde março de 2003. A taxa de desemprego avançou para 12,2% no trimestre encerrado em março, com 1,2 milhão de pessoas a mais na fila por uma vaga.
Informações de Folha de São Paulo.