Operação de guerra contra coronavírus cancela cirurgias e foca casos graves

Os comandos das UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e das redes de saúde no país deflagraram uma operação de guerra para ampliar o espaço nos hospitais aos pacientes graves com o novo coronavírus que precisem de internação e de equipamentos de respiração com ventilação mecânica. As UTIs e esses aparelhos serão o destino de mais de 5% dos infectados pelo coronavírus, levando em conta as estatísticas da doença até agora. A prioridade é que apenas eles, os doentes graves e incapazes de respirar sozinhos, ocupem esses leitos. Ainda sem ter chegado ao ápice da epidemia, relatos nos hospitais indicam que o Brasil será atingido com extrema gravidade, o que tem provocado muita ansiedade entre as equipes médicas dentro e fora do sistema de UTIs. Pessoas em trajes de proteção que receberam, em fevereiro, brasileiros trazidos de Wuhan, epicentro da pandemia de coronavírus. São duas as estratégias principais, que demandam rápida reorganização do sistema e medidas drásticas, como o cancelamento em massa de cirurgias programadas para casos sem urgência: 1) Linha de frente: filtrar os doentes nos municípios por meio da atenção básica e, no limite, usar leitos comuns para os casos menos graves; 2) Retaguarda: atendimento nos hospitais com UTIs, onde a prioridade é elevar a todo custo o total de leitos e proteger da epidemia os cerca de 6.500 médicos intensivistas e outros milhares de profissionais de saúde ligados a eles. Na linha de frente, menos de 10% dos municípios brasileiros têm leitos de UTI, que estão concentrados em cerca de 200 cidades com mais de 150 mil habitantes, entre as 5.570 do país.

O desafio é que os municípios façam a triagem criteriosa de quem deve ser deslocado para hospital de referência em seus estados, as UTIs já trabalhavam com margem apertada mesmo antes da crise da Covid-19.

Com sete profissionais cada uma, as 47,7 mil equipes de saúde da família do Ministério da Saúde já realizam triagens em UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e residências no país. Nas UBSs, os doentes que chegam passam por um “fast track”: são submetidos o mais rápido possível a exame clínico por agentes protegidos por itens anticontaminação que têm a missão de tirá-los dali o quanto antes.

Os positivos para a Covid-19 e menos graves recebem orientação de como ficar isolados em casa e as medidas para atenuar sintomas da doença. Idosos e gestantes são estimulados a se vacinar contra gripe, para que não acabem ocupando UTIs depois por esse motivo.

O Brasil tem cerca de 31 mil leitos de UTIs exclusivas para adultos, que estão divididos mais ou menos ao meio entre públicos e privados. O número sobe para cerca de 45 mil ou mais se forem consideradas outras unidades que podem ser usadas para esse fim —e sem contar um total ainda indefinido que o Ministério da Saúde está incorporando ao sistema. O problema é distribuição regional e a lotação dos leitos. O SUS (Sistema Único de Saúde) não tem UTIs suficientes para atender a crise do coronavírus caso a epidemia atinja, no Brasil, a gravidade de outros epicentros do mundo —o que é cada vez mais provável.

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