Pesquisadores da UFRJ recomendam a suspensão de eventos e o fechamento das praias.
“Tem muito paciente chegando muito grave e o que tenho notado é que tem pacientes muito jovens”, disse a médica intensivista Carolina Lucas
“Eles já chegam em insuficiência respiratória, precisa ser imediatamente entubado, colocado em ventilação mecânica. E infelizmente com uma evolução muito rápida ao óbito”, afirmou o médico Rafael Mello Galliez.
Os médicos Rafael e Carolina trabalham na linha de frente do combate à Covid em hospitais diferentes, no Rio, mas nas últimas semanas têm sido testemunhas diárias do mesmo drama: o avanço da doença.
“Nessas últimas 24 horas, os leitos foram desocupados e imediatamente reocupados num período de menos de seis horas”, contou Rafael.
“Quando algum paciente vai a óbito ou tem alta do CTI, esses leitos são preenchidos em cerca de duas, três horas no máximo”, disse Carolina.
E o aumento da oferta de eleitos está sendo insuficiente para atender o número de pacientes graves que chegam às emergências. A fila está crescendo. Na terça-feira passada (24), 146 pacientes esperavam por um leito na cidade do Rio. Nesta terça (1), mais que dobrou, são 315, 168 deles precisando de UTI.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
Na rede SUS do município, 91% das UTIs para Covid estão ocupadas. Nos hospitais particulares também está perto do limite.
Nelson ficou internado com sintomas de Covid numa ala isolada de um hospital público por cinco dias. Só na segunda-feira (30) conseguiu uma vaga de UTI para ser transferido. Não deu tempo. A família diz que Nelson morreu na ambulância.
“O caso dele se agravou no sábado e aí foi entubado, Ele ficou no trauma, no setor de trauma, não foi para o CTI”, diz Gabriele Freitas, sobrinha de Nelson.
Um grupo de cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que acompanha a evolução da pandemia, afirma que o estado pode sofrer um colapso no atendimento aos pacientes, principalmente aos mais graves. Eles pedem que as autoridades locais e federais trabalhem de forma coordenada para tomar medidas urgentes.
Na lista estão a abertura imediata de leitos de enfermarias e UTIs, contratação emergencial de profissionais de saúde, ampla testagem da população, suspensão imediata de todo tipo de evento presencial, fechamento de praias e uma avaliação para retomar medidas de distanciamento e até lockdown, caso a situação permaneça a mesmo ou então se agrave.
“O que a gente está vendo ao longo desses meses é que a sociedade como um todo relaxou, tanto a população em seu comportamento, mas principalmente o poder público, que não quer declarar que pode haver qualquer medida restritiva à circulação”, afirma a pesquisadora da UFRJ Chrystina Barros.
“Hoje a única coisa que a gente pode pedir é a mesma coisa que falou em abril: tentem não se infectar. É o momento de a gente restringir a circulação ao essencial”, recomenda Rafael.
“A gente está num momento em que o Covid não escolhe quem ele vai deixar grave. Pessoas jovens estão falecendo, idosos, e a gente não tem mais como prever quem vai ficar bem e quem não vai”, alertou Carolina.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
A Secretária municipal de Saúde do Rio anunciou que vai se reunir na quarta-feira (2) com o Comitê Científico para avaliar se é o caso de recuar nas medidas de flexibilização. Afirmou que mantém um hospital de campanha funcionando e que não fechou leitos.
O governo do estado anunciou a abertura de mais 150 leitos de UTI nos próximos 15 dias.
Sobre o paciente que morreu na ambulância, o Hospital do Andaraí afirmou que prestou assistência necessária e que ele foi transferido assim que surgiu a vaga.