País, que recebe grande número de requerentes de refúgio vindos pelo mar, divulga planos de instalar bloqueio flutuante para conter fluxo migratório. Especialistas temem que pessoas fiquem presas em alto mar.
O governo da Grécia planeja erguer uma barreira marítima para conter o fluxo de migrantes vindos em barcos partindo da Turquia, através do mar Egeu. A estratégia seria a instalação de um bloqueio flutuante de 3 quilômetros de extensão, com altura de meio metro acima da superfície da água.
“Queremos ver se pode ser implementado e se funcionaria”, disse o ministro grego da defesa Nikos Panagiotopoulos, após o governo publicar a criação de uma licitação para o projeto.
A barreira seria semelhante aos flutuadores usados para conter vazamentos de óleo nos oceanos. O objeto, que segundo as especificações deve incluir sinalizadores de luz, deve ser colocado na costa da ilha de Lesbos, um dos principais pontos de chegada de migrantes vindos da Síria, do Afeganistão e de outros países, através da Turquia. A conclusão do projeto deverá levar alguns meses.
Alguns especialistas duvidam que a barreira possa evitar que migrantes cheguem até as ilhas gregas, e, mesmo que funcione, há o temor de que acabe deixando grupos de pessoas presos em alto mar.
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) e a União Europeia (UE) alertaram que o bloqueio resultaria numa obstrução ao direito de pedir refúgio.
O porta-voz do Acnur Boris Cheshirkov observou que, enquanto a Grécia tem o direito de proteger suas fronteiras, deve estar ciente de que “muitos dos migrantes que chegam às suas praias são realmente refugiados”.
“A instalação das barreiras não é, por si só, contrária às leis da UE”, disse o porta-voz da Comissão Europeia Adalbert Jahnz, ressaltando que “esses obstáculos físicos não devem impossibilitar o acesso aos procedimentos de refúgio para os que potencialmente precisarem”. Ele disse que Bruxelas entrará em contato com Atenas para obter maiores detalhes sobre o projeto.
A Grécia abriga um grande número de refugiados em seu território, muitos deles mantidos em condições miseráveis em campos de acolhimento superlotados. A situação se agravou nos últimos meses em ilhas gregas, com um aumento acentuado da chegada de migrantes desde abril do ano passado.
A população local vem realizando protestos contra os centros de acolhimento, que abrigam atualmente mais de 40 mil migrantes nas ilhas de Lesbos, Chios, Leros e Kos. A capacidade inicial dessas instalações era de 7,5 mil pessoas.
Desde que assumiu o governo grego no ano passado, o primeiro-ministro conservador Kyriákos Mitsotákis vem tentando diminuir o problema, com a transferência dos migrantes considerados aptos a receber o status de refugiados para a Grécia continental, além acelerar as deportações do que tiverem os pedidos de acolhimento negados.
Atualmente, cerca de 30 pessoas são deportadas diariamente da Grécia para a Turquia, de acordo com o previsto no acordo migratório de 2016, assinado entre Ancara e Bruxelas.
Fonte: DW Brasil