Se uma mentira repetida milhões de vezes se torna ou não verdade, essa não é uma preocupação para o Facebook. Nesta quinta-feira, a companhia anunciou novidades na sua abordagem sobre a propaganda política, incluindo um controle de exposição para os usuários, mas reforçou sua posição de não interferir nesse tipo de publicidade. Mesmo que o conteúdo seja reconhecidamente falso.
O tema gera polêmica nos EUA, que terá eleição presidencial em novembro deste ano. No último pleito, inesperadamente vencido pelo republicano Donald Trump, a rede social foi apontada como um dos pesos da balança. Como posteriormente ficou comprovado, o magnata foi suportado pela firma britânica Cambridge Analytica, e surfou numa campanha de desinformação promovida por agentes russos.
Outras empresas de tecnologia anunciaram mudanças para conter a disseminação de mentiras. Radical, o Twitter decidiu bloquear todos os anúncios políticos. O Google limitou a segmentação, restringindo os filtros apenas para idade, gênero e localização.
“Nós escolhemos expandir a transparência e dar mais controle para as pessoas”, afirmou Rob Leathern, diretor de gerenciamento de produtos no Facebook, em texto publicado em blog. “Na ausência de regulamentação, o Facebook e outras empresas são deixadas para criar suas próprias políticas. Baseamos as nossas no princípio de que as pessoas devem poder ouvir aqueles que desejam liderá-las, e que o que eles digam seja examinado e debatido em público”.
Leathern destaca que os políticos não podem dizer tudo, pois devem seguir os padrões da comunidade que impedem, por exemplo, o discurso de ódio e conteúdos que intimidem eleitores a exercerem seu direito de voto. Mas mentiras são permitidas, mesmo que o alvo da calúnia peça remoção do conteúdo.
Foi isso o que aconteceu com o pré-candidato democrata Joe Biden. Em outubro do ano passado, na época em que surgiram as acusações que levaram à abertura do processo de impeachment contra Trump, a equipe do presidente montou uma campanha publicitária com acusações falsas contra Biden e seu filho. Inconformado, o democrata pediu que o anúncio fosse removido pelo Facebook, que se recusou.
O fato gerou polêmica. A senadora Elizabeth Warren, também pré-candidata democrata à presidência, aproveitou o momento para usar essa permissividade do Facebook numa crítica à rede social. Sua equipe montou uma campanha publicitária, no próprio Facebook, dizendo que Mark Zuckerberg, cofundador e diretor executivo da companhia, havia declarado apoio à reeleição de Trump.
“Nós reconhecemos que isso é uma questão que provoca muita discussão pública — incluindo muitas críticas à posição do Facebook”, reconheceu Leathern. “Nós não estamos surdos a isso e continuaremos trabalhando com reguladores e legisladores em nossos esforços contínuos para ajudar a proteger eleições”.
Alguns desses esforços já serão efetivos nas eleições deste ano. No comunicado, Leathern anunciou algumas novidades, que dão mais transparência aos anúncios e maior controle para os usuários.
Na Biblioteca de Anúncios, que armazena todas as propagandas políticas rodadas na rede social nos últimos sete anos, será possível consultar quantas pessoas cada anúncio pretendia alcançar, além de realizar buscas por palavras-chave e outros filtros, como tamanho da audiência, datas e regiões alcançadas.
Para os usuários, uma nova ferramenta vai permitir que as pessoas escolham se desejam ou não serem encontradas por anunciantes que usam listas de e-mail ou telefone. Também será possível optar por receber menos anúncios políticos, num controle já existente para limitar propagandas por tópicos e interesses.