O Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu nesta quarta-feira (18) baixar a taxa básica Selic em 0,50 ponto percentual, reduzindo os juros para 3,75% ao ano. Esse é o 7º corte consecutivo e levou o percentual para o menor patamar da história.
O colegiado do Copom atribuiu a decisão à pandemia de covid-19 e seus impactos na economia brasileira e global. Até então, a Selic estava em 4,25% ao ano. O Banco Central havia sinalizado na penúltima reunião que haveria interrupção da sequência de cortes na Selic. Mas o surto de coronavírus no mundo tem reduzido a previsão de crescimento econômico global e no Brasil e levou Bancos Centrais de outros países a adotar medidas de estímulos monetários.
Depois de duas reuniões extraordinárias, os Estados Unidos decidiram reduzir os juros para o intervalo de 0 a 0,25% ao ano. O último corte foi de 1 ponto percentual. A medida pressionou o BC para que derrubasse os juros também no Brasil, mas a autoridade monetária optou por uma diminuição de menor intensidade.
Os operadores do mercado financeiro divergiam sobre qual deveria ser o novo patamar da Selic. Parte dos analistas defendia um corte mais expressivo dos juros, assim como fizeram os EUA, levando a taxa básica Selic para 3,25% ao ano.
Outros diziam que o corte deveria ser menor porque a queda dos juros não tem efeito imediato na economia e gera pressão para elevar o nível do dólar, que chegou a ser cotado a R$ 5,24 nesta quarta-feira (18).
No início do ano, a expectativa dos analistas para o crescimento econômico estava na faixa de 2% a 2,5%, nível mais alto do que nos últimos 3 anos: 2017 (1,3%), 2018 (1,3%) e 2019 (1,1%).
Mas a covid-19 prejudicou todos os setores da economia no mundo. O coronavírus, que se espalhou a partir da China, foi disseminado para outros continentes e impôs restrições no fluxo de serviços e pessoas, além de ter limitado a produção industrial e o comércio.
A economia está em lenta recuperação, e a inflação está em patamares baixos. A projeção dos analistas para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) está em 3,10% e 3,65% para 2020 e 2021, respectivamente.
Os percentuais estão abaixo do centro da meta, que é de 4% para 2020 e de 3,75% para 2021. Nem a alta do dólar está sendo suficiente para pressionar os preços, dada a ociosidade da economia. O maior número de casos da covid-19 no país também deve restringir a expansão econômica do Brasil.
COMUNICADO
Eis o comunicado completo do Copom:
Em sua 229ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 3,75% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
- No cenário externo, a pandemia causada pelo novo coronavírus está provocando uma desaceleração significativa do crescimento global, queda nos preços das commodities e aumento da volatilidade nos preços de ativos financeiros. Nesse contexto, apesar da provisão adicional de estímulo monetário pelas principais economias, o ambiente para as economias emergentes tornou-se desafiador;
- Dados de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom vinham em linha com o processo de recuperação gradual da economia brasileira. Entretanto, esses dados ainda não refletem os impactos da pandemia de COVID-19 na economia brasileira;
- O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente se encontram em níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária;
- As expectativas de inflação para 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,1%, 3,65% e 3,5%, respectivamente;
- No cenário híbrido, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante a R$4,75/US$*, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,0% para 2020 e 3,6% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 3,75% a.a. e se eleva até 5,25% a.a. em 2021; e
- No cenário com taxa de juros constante a 4,25% a.a. e taxa de câmbio constante a R$4,75/US$*, as projeções situam-se em torno de 3,0% para 2020 e 3,6% para 2021.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.
Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado. Esse risco se intensifica caso um agravamento da pandemia provoque aumento da incerteza e redução da demanda com maior magnitude ou duração do que o estimado.
Por outro lado, o aumento da potência da política monetária, a deterioração do cenário externo ou frustrações em relação à continuidade das reformas podem elevar os prêmios de risco e gerar uma trajetória da inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 3,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário 2020 e, principalmente, de 2021.
O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.
O Copom enfatiza que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas têm o potencial de elevar a taxa de juros estrutural da economia. Nessa situação, relaxamentos monetários adicionais podem tornar-se contraproducentes se resultarem em aperto nas condições financeiras.
O Copom entende que a atual conjuntura prescreve cautela na condução da política monetária, e neste momento vê como adequada a manutenção da taxa Selic em seu novo patamar. No entanto, o Comitê reconhece que se elevou a variância do seu balanço de riscos e novas informações sobre a conjuntura econômica serão essenciais para definir seus próximos passos.
O Banco Central do Brasil ressalta que continuará fazendo uso de todo o seu arsenal de medidas de políticas monetária, cambial e de estabilidade financeira no enfrentamento da crise atual.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fábio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.