Com demora de 2ª dose, Brasil fica mais vulnerável

A variante delta está se proliferando no Brasil. Por onde passou, a mutação — que tem como características alta taxa de transmissibilidade e sintomas principais diferentes das demais variantes da covid-19 até o momento — tornou-se predominante e aumentou número de casos.

A demora para a cobertura vacinal por aqui é o que preocupa especialistas com a transmissão comunitária da delta. No Brasil, pouco mais de 34,3 milhões de pessoas completaram o ciclo vacinal com duas doses ou dose única. Isso representa apenas 16,2% da população — cobertura considerada baixa por especialistas, especialmente se comparada à de outros países.

”Dada alta contagiosidade e a ainda baixa cobertura vacinal plena no Brasil, considero que temos um risco potencial de nova sobrecarga ao sistema de saúde e todas as consequências decorrentes disso — inclusive, mortes.” Evaldo Stanislau, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Enquanto países com percentual de imunizados superior a 40% viram os números de casos aumentar, mas os de óbitos se manterem baixos, nações com índices semelhantes ou inferiores aos do Brasil tiveram novas explosões de mortes.

”Para proteger da covid-19, as vacinas precisam do ciclo completo, mas essa variante Delta veio mostrar isso de forma mais clara. Ela tem um conjunto de mutações específicas e sua disseminação é muito mais rápida, em especial entre os não imunizados. Os estudos já apontam que, se só tiver uma dose, a pessoa está ainda mais suscetível a ela e aos seus efeitos mais graves.” Marcelo Paiva, biomédico e professor da UFPE.

A vacinação tem acelerado no país, mas o ciclo de imunização não caminha em ritmo desejável segundo especialistas ouvidos pela reportagem.

”O ritmo de vacinação está lento. Vacinamos há meses e apenas 16% da população completamente vacinada? Todo esse esquema de intervalo de 90 dias [para AstraZeneca e Pfizer] é preocupante quando olhamos a Delta.”Marcelo Paiva, biomédico e professor da UFPE.

Segundo ele, dada a iminência e o crescimento da variante no Brasil, esse ciclo deveria ser revisto. “É muito angustiante porque, embora cada vírus se comporte de forma diferente em cada população, é fato que as populações imunizadas não tiveram efeitos tão preocupantes em relação a óbitos. As vacinas funcionam, o que falta é aplicar”, afirma o biomédico.

O Ministério da Saúde afirmou que “monitora, em conjunto com as equipes de Vigilância Epidemiológica e CIEVS locais, todos os casos confirmados da variante no país” e que passa orientações aos estados e municípios. Disse ainda que “embora os entes federados tenham autonomia para seguir a estratégia local de vacinação, a recomendação do Ministério da Saúde é de que seja seguido o PNO (Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19)”.

A recomendação do PNO é que o intervalo entre doses da AstraZeneca e da Pfizer, que indica um período de apenas 28 dias em sua bula, sejam de 90 dias. A pasta não respondeu se, com a delta, esta janela pode ser revista.

Sintomas diferentes

Outro alerta que os especialistas fazem em relação à delta é que, até então, ela tem mostrado sintomas predominantes diferentes dos apresentados em pacientes diagnosticados com a covid-19, como os infectados com a mutação gamma, mais frequente no Brasil.

Isso também tem sido observado por aqui. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, 95,6% dos infectados com a delta tiveram síndrome gripal.

Os principais sintomas associados à delta, segundo especialistas, são:

  • Dor de cabeça
  • Coriza
  • Dor de garganta

Além disso, há ainda os sintomas da covid-19 considerados “clássicos”:

  • Febre Tosse constante
  • Perda de olfato e/ou paladar
  • Falta de ar
  • Dores no corpo
  • Diarreia.

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