A liquefação, com o maior acúmulo de água na estrutura, foi também o motivo apontado para o rompimento de barragem da Samarco em 2015, que usava o mesmo método de alteamento.
O rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro, foi resultado da “liquefação estática” dos rejeitos dentro da estrutura, concluiu um painel de especialistas contratado pela assessoria jurídica externa da mineradora para avaliar as causas técnicas do desastre que matou mais de 255 pessoas.
Em relatório publicado nesta quinta-feira (12), o painel pontuou que a estrutura não continha drenagem interna suficiente e, portanto, tinha um alto nível de água no talude a jusante.
“Isso fez com que uma parte significativa dos rejeitos permanecesse saturada, o que é um pré-requisito para a liquefação estática não drenada”, disse o documento.
Uma autoridade do governo mineiro afirmou em fevereiro, em entrevista à Reuters, que tudo indicava que o desastre teria ocorrido por liquefação, quando uma estrutura sólida perde resistência pela ação da água, por exemplo.
Esse fenômeno já ocorreu em outros grandes desastres no mundo em estruturas com o mesmo método de construção de Brumadinho, com tecnologia de alteamento a montante.
O sistema a montante custa menos que outros tipos de design, mas apresenta maior risco de segurança, porque suas paredes são construídas sobre uma base de resíduos, em vez de em material externo ou em terra firme.
A liquefação, com o maior acúmulo de água na estrutura, foi também o motivo apontado para o rompimento de barragem da Samarco (joint venture da Vale com BHP) em novembro de 2015, que utilizava o mesmo método de alteamento.
O painel, que não teve como objetivo apontar responsabilidades pelo desastre, concluiu ainda que não houve atividade sísmica ou registro de detonações antes do rompimento da barragem e que nenhum dos dispositivos de monitoramento detectou precursores do problema.
“Em vez disso, o rompimento da barragem foi súbito e abrupto, decorrente de altas tensões de cisalhamento no talude a jusante da barragem e da resposta frágil e não drenada dos rejeitos”, apontou a análise.
Segundo o relatório, que foi divulgado pela Vale, características do projeto e da construção da Barragem I estão entre os fatores que contribuíram para seu rompimento.
“Especificamente, o projeto resultou em uma barragem íngreme, com falta de drenagem suficiente, gerando altos níveis de água, os quais causaram altas tensões de cisalhamento dentro da barragem”, afirmou.
Condições de instabilidade
Na conclusão do relatório, os especialistas afirmaram que a experiência com rompimentos anteriores de barragens de rejeitos mostra que eles raramente se devem a uma só causa e listaram diversos pontos que criaram as condições de instabilidade na barragem da Vale.
Dentre eles, o documento disse que o gerenciamento da água dentro da bacia de rejeitos às vezes permitia que o líquido chegasse perto da crista da barragem, resultando no lançamento de rejeitos fracos perto da crista.
Também afirmou que um recuo no projeto empurrou as partes superiores do talude para cima dos rejeitos finos e mais fracos, e que a falta de drenagem interna significativa resultou em um nível de água elevado na barragem, principalmente na região do pé da estrutura.
O relatório citou ainda precipitação regional alta e intensa na estação chuvosa e alto teor de ferro, que resultou em rejeitos pesados com cimentação entre partículas.
“Esta cimentação gerou rejeitos rígidos que apresentavam comportamento potencialmente muito frágil se sujeitos a um gatilho que os levasse à condição não drenada”, afirmou.
No entanto, o painel frisou que a estrutura “não mostrou sinais de instabilidade, como grandes deformações que gerassem rachaduras e abaulamentos, antes do rompimento”.
O colapso de Brumadinho liberou uma onda de lama, que atingiu mata, rios e comunidades da região, além de refeitório e área administrativa da própria Vale, durante a hora do almoço. Grande parte das vítimas fatais era de funcionários da mineradora.