O caso da ameaça do presidente Jair Bolsonaro a um repórter do jornal O Globo ganhou novo desdobramento nesta segunda-feira (24).
Perfis de apoiadores do presidente da República têm divulgado um vídeo legendado do momento em que o presidente falou a frase “Vontade de encher a sua boca de porrada” no dia anterior. Um letreiro indica que um presente teria dito “vou visitar a sua filha na cadeia” logo antes da fala de Bolsonaro.
O site Poder360 publicou um vídeo que sua equipe fez no local provando que a frase indicada na legenda não foi dita. Ao desacelerar o vídeo para que o trecho possa ser ouvido com mais clareza, é possível perceber que o transeunte na verdade fala em “visitar a nossa feirinha da Catedral”.
Veja abaixo o vídeo com o momento –primeiro, em velocidade normal e, depois, desacelerado.
A gravação foi divulgada no canal de YouTube do presidente da República, sem as legendas, com o título “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!”. Esta também foi a versão compartilhada pelo vereador Carlos Bolsonaro em seu perfil no Twitter.
A versão com as legendas incorretas foi divulgada durante a manhã em perfis que apoiam o presidente.
Depois de descer do carro, Bolsonaro dirigiu-se à banca de um comerciante. No caminho, o repórter perguntou: “Presidente, por que a sua esposa recebeu R$ 89.000 do Fabricio Queiroz?”
Outro profissional, da TV Globo, emendou outra pergunta: “E os depósitos seguidos na conta da empresa do Flávio, presidente? O senhor tinha conhecimento?”
O presidente da República respondeu ao profissional da emissora: “O que? Você quer saber do 1 bi e 750 do Roberto Marinho? É isso?” Em seguida, dirigiu outra frase ao repórter do jornal: “Vontade de encher sua boca de porrada, seu safado”.
Queiroz depositou R$ 72.000 à primeira-dama. A mulher dele, Márcia, teria repassado outros R$ 17.000.
No fim de 2018, quando apareceram os primeiros indícios de depósitos de Queiroz a Michelle Bolsonaro, o então presidente eleito disse que os valores eram para quitar uma dívida de R$ 40.000.
Queiroz é amigo da família e foi chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro, filho do presidente, na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro). Flávio hoje é senador.
O Ministério Público investiga suposto esquema de “rachadinha” quando o filho do presidente era deputado estadual. Trata-se da prática de políticos se apropriarem de salários de assessores pagos pelo poder público.
A frase ensejou forte reação nas redes sociais. Jornalistas, celebridades e internautas fizeram uma corrente de publicações repetindo a pergunta: “Presidente Jair Bolsonaro, por que sua esposa, Michelle, recebeu 89 mil de Fabrício Queiroz?”.